Entender o Ouricuri é uma tarefa difícil para as mentes não indígenas, céticas e condicionadas a um processo de pensar colonizado, branco e grafocêntrico O ritual é um segredo e mistério para aqueles que se aventuram a conhecer a cultura Tingui-Botó. Sacramentá-lo como parte da cultura deste povo é abrir mão dos preconceitos e ceticismos da ciência positivista. O Ouricuri é gênese porque só a partir dele José Ferreira Botó formou a aldeia, através dos conhecimentos de Pajé e ancião. Princípio e caminho de todo modo de vida Tingui-Botó.
Se fosse possível fazer uma analogia entre o Ouricuri e um Plano, enquanto documento base do planejamento, talvez ele fosse um. Nas palavras de Eré Tingui-Botó, jovem e presidente da Associação de Jovens Produtores Tingui-Botó, é da Natureza que o povo retira a força, os ensinamentos, a tradição e os desígnios do fazer diário. Tudo isso é feito através do Ouricuri.
Cercado de mistérios e especificidades, o planejamento nãoindígena, os técnicos, os promotores de políticas públicas, legisladores, não conseguem entender o quão potente é o Ouricuri na vida da aldeia e do povo. Aos planejadores dizem os que, seja no território Tingui-Botó, seja em outro território indígena em qualquer canto do país, abandonem por um momento o papel e a escrita e se ponham no círculo de diálogo indígena. Entender e respeitar a tradição oral é um princípio fundamental para planejar nestes territórios. O Ouricuri é prática sagrada, é lugar, pois onde se prática é chamado de Ouricuri, e são modos de vida


